quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Capítulo 10 - Rei e Coração de Leão


Acordei lentamente algumas horas após o nascer do Sol. Deveria ser mais ou menos 9h, pois o Sol já estava no primeiro quarto de seu caminho pela abóbada celeste. Sentia meu corpo gelado e dormente por causa do frio e obviamente do gelo. A Chave estava escondida embaixo da minha camiseta, em uma correntinha junto do colar que eu havia ganho em meu aniversário. Eu ainda não havia me acostumado a usar o vestido verde com prata longo que os Filhos da Lua e que são ninfas usam, então resolvi usar minha camiseta verde-água xadrez, meu All Star e meu jeans surrado.
     - Vejo que você conseguiu a Chave. - A anciã disse. - É melhor voltarmos. Uma amiga sua disse que havia uma surpresa para você.
     Estremeci quando ela disse isso. Percebi que era de Christine que estava falando, então lembrei do modo de como ela escondeu toda a verdade de mim e tudo acabou por piorar.
    Ela estalou os dedos e aparecemos novamente na caverna. Ela me guiou até a entrada do Refúgio e desapareceu.
    Vamos ver o quê Christine quer...
    Adentrei os portões de folhas, os quais guardavam secretamente o meu novo lar, e fui até o endereço da casa. Fui surpreendida por ver que os móveis e as coisas não estavam mais lá, mas apenas um bilhete estava colado na parede, agora nua.
    Mudamos para o final da rua, para o n° 520. Tive que fazer isso para te proteger. Explico tudo depois.
                                                       - C
    E com isso, ela me devia... 4 explicações: 1- Por quê ela escondeu tudo de mim, 2- Onde estavam os meus irmãos, 3- O quê aconteceu com minha família e 4- Por quê mudamos de casa tão repentinamente.
    Segui o mapa desenhado na folha e cheguei a um casarão que estava com uma cara de abandonado, que eu vou te contar...
    Isso Christine, você tem um ótimo gosto para casas.
    Entrei na casa e logo vi as teias de aranha nas quinas superiores das paredes. A casa, mesmo tendo teias de aranha, estava arrumada e limpa. Alguns vasos de dinastias diferentes ornamentavam as mesas, com flores exóticas dentro. Quadros dourados mostravam pinturas de condes, duquesas e marqueses, os quais os olhos pareciam estar fixados em mim. Parecia que eu havia voltado no tempo para o século 18, ou algo assim.
     Subi as escadas e notei que havia 7 quartos, fora o quarto de hóspedes e os banheiros, mas todos estavam vazios. Alguns estavam com a porta trancada, outros eu podia entrar facilmente.
    Ouvi passos na porta de entrada que me tiraram do transe, então desci as escadas para averiguar o assunto. Cheguei lá, mas não era ninguém. Ouvi novamente passos no andar de cima e uma porta se fechando. Provavelmente quem entrara ali devia ter usado um teletransporte.
    - Eu estava esperando você. - Uma voz disse. Com um sobressalto virei-me e vi uma silhueta conhecida. Mas o quê fazia ali?
    - J-Johnathan! - Começei a me preocupar. - Que surpresa te ver aqui! Como está a vida no castelo? - Johnathan era de uma família real, mas diferente de mim, ele sabia que era príncipe desde pequeno.
    - Você não sabe? - Sua voz tinha uma pitada de orgulho. - Agora sou rei.
    - Que bom! Felicidades! - Eu estava começando a entrar em pânico. Ele era humano, o quê ele fazia aqui? - Quem te trouxe até aqui?
    - Uma amiga sua. - Ele respondeu.
    Maldita! Christine, você me paga!
    Deixe-me explicar uma coisa: Johnathan e eu éramos amigos. Nossa relação agora está mais para "conhecidos", devido ao seu enorme egocentrismo e romantismo. Em outras palavras ele gostava de mim, mas era egocêntrico demais para admitir. Eu, pelo contrário, via ele como um irmão e não gostava dele como ele gostava de mim. Fui me afastando dele, e agora estamos nesse momento estranho.
    - Então, você continua sendo corajosa o suficiente para morar sozinha neste casarão abandonado, não é Coração de Leão? - Este era o apelido que ele me dera quando éramos pequenos, por eu ter coragem de fazer loucuras.
    - Continuo. Você não sabe o quão  corajosa eu fui neste último mês. Você não tem ideia. - Falei em voz baixa.
     - Imagino você livrando os humanos da bestas que existem do outro lado da fronteira. - John disse tranquilamente. No mesmo instante fiquei paralisada. O que as bestas-feras estavam fazendo na fronteira?
    - Droga, Droga, Droga! - murmurei baixo o suficiente para ele não ouvir. - Isso não pode estar acontecendo.
    - Então os dois estão aí. - Ouvi uma voz na escadaria. - Eu estava procurando vocês por toda a parte. - Era Christine, com sua máscara e a coruja-de-igreja no seu ombro. Ela olhou para nós. - Rei e Coração de Leão, que bela dupla. Posso falar com ela por um instante?
    - Claro! - John concordou.
    Nos afastamos dele e fomos para o segundo andar. Eu sabia o que ela queria: me dar as tão desejadas explicações.